Manuela Cardoso Nutricionista; Docente de Nutrição Pediátrica; Colaboradora do Banco do Bebé
Azia e náuseas na gravidez
Hoje vamos falar de 2 situações de desconforto gástrico frequentes na gravidez que nos tiram do sério: as náuseas e a azia na gravidez.
- Náuseas na gravidez:
As náuseas surgem logo no início e desaparecem habitualmente no final do 1º trimestre. Podem constituir um problema sério se levarem a episódios repetidos de vómitos, que além de impedirem a mãe de se alimentar, podem provocar desidratação. Um sufoco!
Ocorrem em boa parte por causa hormonal, se bem que a glicemia habitualmente baixa durante o primeiro trimestre, também tem alguma responsabilidade.
Os riscos para o bebé decorrem da desidratação, eventual desnutrição e qualquer alteração metabólica da mãe. O stress emocional, assim como as contrações abdominais repetidas, podem também prejudicar o bebé.
Qual o melhor tratamento e dicas para as náuseas na gravidez?
Muitas mulheres não dispensam de medicação, mas ao nível da alimentação, existem alguns truques que podem operar verdadeiros milagres. Se pensarmos que a glicemia baixa contribui para o agravamento das náuseas, parte da solução passa por fazer refeições muito frequentes (há que impedir que as reservas se esgotem!). Levar um pré pequeno-almoço para a mesa de cabeceira à noite, e comê-lo antes de se levantar, melhora a qualidade de vida no início do dia. Mais tarde, se as náuseas ameaçarem próximo das horas das refeições, o melhor é optar por alimentos frios e sólidos, por exemplo: substituir a sopa por uma salada ou 1 copo de leite morno por iogurte. E porque não, congelar iogurte e comê-lo em forma de “gelado”, nos momentos críticos? Até a água pode ser ingerida na forma de chá gelado, ou mesmo como gelado de gelo, em caso de necessidade. Só não vale desidratar!
- Azia na gravidez
A azia aparece algum tempo mais tarde e não, não tem nada a ver com o crescimento do cabelo do bebé!
O que se passa é que por força da alteração hormonal da gravidez, há um relaxamento muscular do aparelho digestivo. Esta situação leva ao atraso do esvaziamento gástrico, alteração dos movimentos do intestino e menor firmeza do esfíncter gastro-esofágico (o músculo que controla a entrada de alimentos no estômago), o que facilita o refluxo.
A situação complica-se com o aumento do tamanho do bebé e a consequente pressão no estômago. O conteúdo gástrico tem ácido à mistura. Tem sempre, na verdade. Habitualmente não damos conta disso, porque o percurso normal é do estômago para o intestino e não na direção da garganta.
A azia não acarreta perigo para o bebé a menos que, por força do desconforto, a mãe diminua de forma significativa o aporte nutricional.
Qual o melhor tratamento e dicas para a azia na gravidez?
Alguns ajustes na alimentação podem também aqui melhorar a qualidade de vida. É importante facilitar o esvaziamento gástrico, concordam? Para isso, devemos diminuir a quantidade de gordura das refeições, assim como o excesso de fibra. Cereais integrais, por exemplo, não são bem vindos nesta altura. Ingerir líquidos durante as refeições também pode agravar a azia, pelo facto de levarem a maior distensão do estômago – o que é um estímulo para uma maior produção de sucos gástricos. Por fim, refeições frequentes e de pequeno volume, são sempre uma boa estratégia.
Em situações mais graves é mesmo necessário recorrer a medicamentos, mas isso sempre por indicação médica.
Calma mamãs, depois do parto o desconforto gástrico passa à história e tão cedo não se vão lembrar da azia e das náuseas que pareciam não ter fim!