Iris Seixas Psicopedagoga, Colaboradora do Banco do bebé
A importância do amor na construção do cérebro
Na medida em cada vez mais se vai estudando o desenvolvimento do cérebro e as suas capacidades intelectuais/emocionais, foi sendo possível compreender que o cérebro humano altamente complexo é, na verdade, um conjunto de três cérebros que se foram desenvolvendo por camadas e complexificando ao longo da evolução humana para fazer face às necessidades específicas que nós temos e que outros mamíferos não.
O cérebro reptiliano é o mais primário de todos e coordena a nossa consciência irracional e
as funções como o medo, o sono, fome, protecção e sobrevivência. Durante a gestação é o primeiro que se desenvolve. O cérebro límbico, que é comum aos mamíferos e é responsável pela nossa consciência emocional, desenvolve-se até cerca dos 5 anos. Por fim, o neocórtex é aquele que nos diferencia de todas as outras espécies e corresponde à nossa consciência racional. Esta camada é a que envolve um maior desenvolvimento e permitiu a evolução da fala e da escrita, envolve o pensamento e, ao contrário do reptiliano, é o último a desenvolver-se até cerca dos 20 anos.
Tendo em conta que os nossos traços irracionais, emocionais e racionais se ramificam, a nossa personalidade, é um resultado destas intra conexões.
Para termos uma ideia de valores aproximados, o cérebro reptiliano corresponde a 55% de
toda nossa comunicação, o sistema límbico a 35%, e o nosso neocórtex a 7%. Portanto, quando reunimos o cérebro reptiliano com o límbico, o nosso lado racional fica muito pequeno. Embora sejamos animais racionais as nossas raízes irracionais mantêm-se muito fortes e condicionam muitos dos nossos sentidos.
Transportando esta informação para os cuidados ao bebé permite-nos compreender porque é que quando o nosso bebé tem fome, frio ou sono, não conseguimos que ele esteja equilibrado e estável enquanto estas necessidades não estão satisfeitas. O bebé não tem
capacidade de inibir estas necessidades.
São os pais, na sua capacidade de serem empáticos e responsivos às necessidades do bebé e também as próprias experiências que o bebé vai vivendo que ajudam o cérebro emocional a desenvolver-se e a tornar-se mais “sofisticado”. Por fim, o neocortex faz a ligação entre todas estas áreas ao longo da infância e adolescência até se tornar um jovem adulto com personalidade definida.
Apesar de ainda não existir uma idade certa para estes acontecimentos, os investigadores
creem que existe um período sensível até aos 3 anos em que o cérebro está mais receptivo
às estimulações adequadas para um desenvolvimento cerebral equilibrado. Sabe-se, por
exemplo, que bebés acolhidos e sem figura de vinculação de referência têm maior
probabilidade de que as suas áreas emocionais não sejam suficientemente estimuladas e, por
consequência o desenvolvimento da área do neocortex comprometido, o que se reflete mais tarde na relação que vai estabelecer com os outros, pela sua capacidade de ser empático e
sensível às necessidades de outras pessoas. Por seu lado, a racionalidade e as competências
linguísticas do ser humano constroem-se a partir da capacidade de sermos emocionais e
empáticos com os outros.
O amor com que educamos um bebé encontra-se no facto de sermos carinhosos e afáveis
com ele, de darmos mimo e colo quando ele necessita, mas também se traduz em termos práticos pela capacidade de sermos sensíveis, responsivos e empáticos na forma como damos resposta às suas necessidades de alimento, de estarem confortáveis na sua
temperatura e higiene, ou de dar resposta às necessidades de descanso.
Quando cuidamos
de um bebé com esta preocupação estamos a construir um cérebro equilibrado com as mesmas capacidades de empatia e sensibilidade com que cresceu.