Manuela Cardoso Nutricionista; Docente de Nutrição Pediátrica; Colaboradora do Banco do Bebé
Alimentação vegan para bebé: a importância dos ácidos gordos
Continuando a nossa reflexão sobre a alimentação vegan adaptada à primeira infância, uma das preocupações relativamente a este padrão alimentar, é a eventual carência de ácidos gordos ω3.
À primeira vista parece não fazer muito sentido, uma vez que se trata de uma gordura insaturada. A existência de gorduras exclusivamente insaturadas é um dos pontos fortes da dieta vegan, lembram–se?
Certamente já ouviram falar de ácidos gordos ómega 3 (ω3) e ómega 6 (ω6). São gorduras com estruturas ligeiramente diferentes e com diferentes funções no organismo. Atribui-‐se muita importância a um dos ω3 com um nome complexo, – Docosahexaenóico (DHA) – porque constitui uma boa parte da estrutura do cérebro e da retina.
O nosso organismo consegue fabricar DHA a partir de outra gordura menos complexa (ácido α-linolénico), mas o ritmo desse processo nem sempre acompanha as necessidades. Essa produção pode tornar-‐se ainda mais lenta se coexistir uma grande quantidade de ω6, que limita o processo.
Ora as dietas vegan não só são relativamente pobres em DHA (prontinho a consumir), como facilmente fornecem grandes quantidade de ω6. Daí que muitas vezes se recomende suplemento de DHA nos primeiros anos de vida.
Alimentos ricos em ácidos gordos
Sementes de linhaça, leguminosas e nozes fornecem também uma quantidade generosa de fibra, o que limita o consumo de ω3 por parte das crianças mais pequenas que, por estarem numa fase de crescimento rápido do cérebro, vão ficar prejudicadas. Nesse caso parece-‐me uma boa solução a utilização de óleo de linhaça, que garante o aporte de ácido α-linolénico, sem aumentar a quantidade de fibra.
Alimentação vegan na prática: nutrientes essenciais
Do ponto de vista do nutricionista, é fundamental que as crianças recebam todos os nutrientes na quantidade e proporção certas, no momento adequado – porque diferentes fases da vida implicam necessidades nutricionais diferentes.
Tal como no padrão alimentar omnívoro (onde se come carne, peixe, produtos lácteos e ovos), também no padrão vegan se agrupam os alimentos em função do(s) nutriente(s) predominante(s). Em qualquer um deles, existe uma pirâmide alimentar com indicações
preciosas, embora gerais.
O primeiro ano de vida é um tempo especial, onde o aleitamento materno ocupa um papel importantíssimo.
Simplificando:
- 0 – 6 meses: Aleitamento materno exclusivo – A mulher lactante vegan deve garantir o aporte de todos os nutrientes essenciais, mesmo que através de alimentos fortificados ou suplementos alimentares
- 6 – 12 meses: Aleitamento materno ou fórmula de soja ou arroz, como fonte proteica de elevado valor biológico. Introdução gradual de novos alimentos com densidade nutricional elevada e teor limitado de fibra.
Atenção aos erros alimentares!
Apesar de comprovadamente ser possível planear uma dieta vegan nutricionalmente equilibrada, que promova o crescimento harmonioso das crianças, devemos ficar atentos a alguns erros alimentares. O sobreaquecimento de gorduras insaturadas, por exemplo, converte um excelente nutriente num verdadeiro atentado à saúde. Sim, estou a falar de fritos e alimentos processados!
Por outro lado e com alguma frequência, crianças vegan:
- Têm um suprimento insuficiente de energia, com impacto direto da velocidade de crescimento.
- Consomem frequentemente alimentos fortificados, alguns deles com quantidade elevada de sal e/ou açúcar.
- Restringem (por vezes) aporte de nutrientes essenciais.
- Têm disponíveis (e consomem) alimentos nutricionalmente inadequados.
Como conclusão, não podemos criar uma espécie de disputa “dieta vegan contra dieta omnívora”. Ambas são passíveis de proporcionar um crescimento harmonioso, mas também contêm algumas “armadilhas” que é preciso conhecer para evitar.
Terão sempre um nutricionista por perto para vos orientar, se for o caso.
- Cuidados ao Bebé
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