Carlos Daniel Santos Mestre em Medicina, Licenciado em Saúde Ambiental e em Radiologia e investigador na área de Saúde da Mulher
Choro do bebé: como interpretar?
A primeira vez que ouvimos o choro do bebé é logo após o nascimento, denunciando a saúde e o vigor do mesmo. Ao longo do tempo, principalmente nos primeiros 3 meses de vida, o choro do bebé é uma queixa muito comum referida pelos pais, representando um dilema para o diagnóstico, pois pode ser um sinal de dor, doença, angústia, fome ou fadiga, mas na maior parte das vezes é apenas uma manifestação infantil de carinho, atenção ou emoção, influenciada pelo ambiente e interpretada de formas diferentes, consoante o contexto familiar, social e cultural.
É normal o bebé chorar?
O choro do bebé é normal e caracteriza-se segundo o momento, a duração, a frequência e a sua intensidade. A maioria dos bebés chora pouco durante as primeiras 2 semanas de vida, aumentando gradualmente o choro, para 3 horas por dia às 6 semanas de vida e diminuindo para 1 hora por dia por volta das 12 semanas de vida. No caso dos bebés prematuros, o choro é muito pouco nas primeiras semanas de idade, mas tendem a chorar mais do que bebés de termo, a partir das 6 semanas.
A duração do choro difere muito com a cultura e as práticas de cuidado infantil, pois em algumas culturas o choro pode ser reprimido e noutras o choro pode ser considerado uma forma de o bebé se expressar. Por exemplo, as crianças de tribos Kung San (existentes em Angola e Namíbia) choram menos (cerca de 50%), do que as crianças nascidas e criadas nos Estados Unidos da América. O choro também pode estar relacionado ao estado de saúde do bebé. A duração do choro é frequentemente modificável por estratégias de cuidado.
A frequência do choro é menos variável do que a duração do choro. Por volta das 6 semanas de idade, a média de episódios de choro ronda os 10 por cada 24 horas, sendo que durante o dia existe alguma variação na frequência do choro, estando este mais concentrado no final da tarde e à noite.
A intensidade do choro infantil varia muito de bebé para bebé, desde pequenos gemidos até gritos. É normal que um choro infantil intenso, em duração e volume, suscite maior preocupação por parte dos pais e cuidadores, do que uma criança que se manifesta de forma mais suave. Deve-se ter em conta que se o bebé chorar com grande intensidade, por um período de tempo alargado, possivelmente terá que ser observado pelo médico.
Curiosidade: sabias que os gritos de choro de dor dos recém-nascidos são incrivelmente altos? 80 dB a uma distância de 30,5 cm da boca do bebé! Felizmente, a maior parte do choro infantil é de menor intensidade.
Porque é que o bebé chora?
O choro excessivo no início da vida, pode estar associado a dificuldades adaptativas no período pré-escolar, bem como ao desmame precoce, ansiedade e depressão materna, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e outros problemas comportamentais. Existem várias alternativas de tratamento, desde medidas comportamentais, técnicas de manipulação do bebé e o uso de medicamentos. A acupuntura, embora considerada por muitos como um benefício, apresenta resultados e eficácia controversos.
Nos bebés até aos 3 meses, o choro intenso é uma queixa muito comum e embora seja maioritariamente benigno, pode ser a única manifestação clínica de algumas doenças ou situações que necessitam de observação médica. Tais como, o ritmo circadiano alterado, a imaturidade do sistema nervoso central e a alteração da microbiota intestinal.
Qual a importância do choro do bebé ao nascer?
A emergência do bebé em sair para o mundo exterior é, provavelmente, o evento mais cataclísmico da sua vida. O bebé é subitamente bombardeado com uma variedade de estímulos externos (a luz, a passagem de um meio húmido para um meio seco, o ruído), mas para além de todos estes fatores, existem também questões internas que acontecem no processo de nascimento. Desde a alteração na concentração de hormonas, à sensibilidade de pequenos recetores químicos (que aumenta dramaticamente com o nascimento). Como consequência de todas estas alterações, o bebé faz o seu primeiro suspiro! E é neste momento que a passagem de ar pelas cordas vocais, provoca o primeiro choro!
Neste momento, o ar entra no pulmão do bebé e é a presença do oxigénio na corrente sanguínea, que desencadeia o fecho de um pequeno orifício – o forame oval – permitindo que as cavidades superiores do coração (as aurículas) deixem de possuir um meio de passagem de sangue entre si, estabelecendo-se assim a circulação venosa (sangue rico em dióxido de carbono) e a circulação arterial (sangue rico em oxigénio).
Como acalmar o choro do bebé?
A melhor forma e a primeira estratégia que se deve adotar, é garantir que os pais se encontram calmos!
É importante para o bebé e para os pais, que se perceba qual o padrão de choro do bebé: a duração média do choro começa a diminuir por volta das 6 semanas de idade, reduzindo a sua frequência para metade por volta das 12 semanas de idade. Aproximadamente 15% das crianças com cólicas continuam a ter choro excessivo após os 3 meses de idade.
As técnicas para acalmar o bebé, durante uma crise de choro, incluem:
- Vocalizações calmantes ou cantarolar;
- Enfaixamento do bebé com um lençol ou uma toalha;
- Embalar o bebé no colo de forma lenta e segura;
- Fazer uma caminhada com o bebé no carrinho;
- Utilizar o ruído branco e vibração suave (por exemplo, um passeio no carro).
Deve evitar técnicas perigosas, como sacudir o bebé ou colocá-lo em cima de máquinas que provocam vibração, tal aumenta o risco de quedas.
A prescrição de medicamentos é bastante questionável e com potenciais efeitos secundários adversos, não sendo um tratamento recomendado, exceto em situações extremas. Há ainda falta de evidência científica sobre tratamentos alternativos, como técnicas de manipulação, acupuntura e uso de suplementos de ervas.
Esperamos que depois deste artigo consigas lidar melhor quando começares a ouvir o teu bebé a chorar… Nunca te esqueças, mantém a calma e com o tempo vais aprender a interpretar esta forma do teu bebé se expressar!